O que te envelhece?
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O que te envelhece agora? O que te envelheceu ontem? Se não
existisse tempo, ainda assim, envelheceríamos? A noção de que o tempo existe e
é imponente, pode nos envelhecer, paralisar e nos angustiar em meio às nossas tentativas de sobrevivência.
O que é o tempo se não o demarcador de que um corpo tem fim? De que um ciclo tem instante para se encerrar e que tudo é agora, porque as
sensações nunca se repetem e viram fósseis do espaço-tempo. O tempo é o
demarcador do fim e isso pode nos paralisar ou nos fazer meter os pés pelas
mãos, ao tentar subvertê-lo em nosso favor. Então, no fim, somos perdedores?
Como seríamos se não contássemos o tempo? Aguentaríamos viver
uma linha da vida sem pausas e recomeços? Qual noção de velhice daríamos ao
nosso corpo? Por onde nos limitaríamos e julgaríamos os outros? Onde estariam
as nossas esperanças de ‘novos tempos’, da sensação de frescor do champanhe
estourado no réveillon, das estações que se vão e vem?
Ou, talvez, não contar o tempo pudesse ser justamente a
experimentação de liberdade que nunca ousamos vislumbrar. Nos livraríamos das
receitas prontas e cobranças de que as coisas têm um determinado ano e que
você tem que ter certa idade, para que aconteçam alguns eventos em sua vida.
Quando é que você se tocou que é refém do próprio tempo das
coisas? Sim. As coisas têm vida e um tempo
próprio. Não é sua responsabilidade e direito interferir ou sofrer pelo tempo
do outro. Não é justo. Mas, ainda
assim, a sensação de que o tempo vai passar, goste ou não, é o que te
envelhece?
O que talvez ninguém tenha te avisado, e nem você percebeu,
é que quando se perde no tempo, contando ele, tentando vencê-lo e driblá-lo, se
perde muito. Quem sabe, tudo. Quiçá por isso envelhecemos e entendemos esse
envelhecimento como a renúncia de vidas e experiências que não poderão ter a chance de existir. Ficaram no tempo, no
imaginário, em outras dimensões da vida. E, no fim, os nossos sonhos realizados ou não viram fósseis de
nossa alma, espalhados em uma linha que tem sempre um início, meio e fim. Do novo ao velho, tudo isso dura um piscar de olhos.