Notas sobre amor próprio e o desejo de mudar o passado

"seja você, se ame", em português | foto: pixabay

Amor entre duas pessoas não se faz só com uma, mas amor próprio, sim. Não se vive bem e com plenitude o primeiro, ignorando o peso do segundo. E, claro, a tarefa do amor próprio não vem a ser tão fácil nos dias de hoje em que é tão fácil falsear a autoestima e aceitação em um post qualquer na internet. Mas você se permite a cultivar o amor próprio?

Amor próprio requer, primeiramente, um verdadeiro exercício de olhar para dentro, de se enxergar com lucidez e, enfim, aceitar o que não pode ser mudado e amar cada pedacinho de si. Não se trata de ter o ego nas alturas, nem de sair passando por cima dos outros, mas de se amar como se é. De encarar que o que está diante de si é a melhor versão que conseguiu até agora e uma nova e melhor é possível com mudanças a partir de hoje.

Por mais clichê que pareça, o amor próprio não vai vir de outras pessoas, independentemente de qual seja a relação (lamento, mas nem as familiares vão te salvar), ao contrário, nessa briga de egos que vivemos atualmente, dificilmente alguém vai lhe dar o que realmente precisa para seguir adiante e se amar. As pessoas não estão buscando a ausência do amor provocada pela baixa autoestima, longe disso. Elas estão atrás de soma para os amores que já possuem. Por isso, os seus relacionamentos não vão dar bons frutos se a base do amor próprio está na visão do outro.


Desapegue

Desapegue de suas amarguras, das suas frustrações e limitações de até então e não se veja pedindo para o tempo voltar. Porque esse pedido nada tem a ver com aparência ou juventude, mas sim com o desejo de fazer diferente. Já parou para pensar a origem desse desejo de voltar atrás? É o desejo por mudar, por fazer algo que não faria. E não, você não precisa de uma máquina do tempo para isso, contudo, precisa se amar, se aceitar como é e agir de forma diferente hoje, não mais pensando no passado e sofrendo com ele.

Amor próprio se constrói também entendendo que do passado não é preciso ter medo, pois ele já foi. Inclusive, você pode criar narrativas que diminuam o peso da dor do que viveu em favor de si. Pegue e vibre leve. Amor próprio se constrói entendendo que é o presente que importa. O sentir-se bem, aceito, compreendido hoje, agora. Tudo isso não pode vir do outro.

uma melhor versão a cada dia | foto: pixabay

É árduo, eu sei. Não é tão fácil, sobretudo quando não se está dentro dos padrões socialmente aceitos, e às vezes dá vontade de jogar tudo para cima e se satisfazer com uma foto mais ousada (talvez editada ou tirada no melhor ângulo) e uma legenda de amor próprio, numa rede social, e ganhar uns likes. Contudo, a fragilidade dessa atitude estará logo na esquina, ao se olhar no espelho e encarar que o que precisa ser mudado permanece intacto dentro de você.

Se ultrapassada a barreira e o desafio de realmente se amar e se enxergar como único nesse mundo de bilhões, está na hora de enfim viver o amor a dois. Desapegue hoje, agora, nesse minuto. Coloca um lembrete no celular e se for preciso espalhe post-it pela casa. Absorva essa mensagem urgente, ela provavelmente vem de sua versão futura que busca por espaço para existir.

Desapegue de suas versões passadas e feridas e construa uma nova, a melhor de todas. E não se preocupe, porque a versão de hoje será melhor do que a de ontem, a de amanhã da hoje e assim por diante. E um dia você vai enfim perceber que quanto mais cedo se consegue absorver essa mensagem, mais rápido vive o que se quer viver. E nessa vida todos queremos viver o amor (calma, não estou falando de casamentos e se fosse não teria problema algum em). Mas me refiro ao amor em todas as suas formas e feições: o amor que está dentro de você.

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