Quase

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Quase
Por que é tão difícil deixar algo que está na fase do quase?
Na proximidade da realização,
Da vivência completa, plena,
Ainda que continuamente imperfeita, há beleza

Quase
Por que a dor do quase dói mais do que a do enfim, o fim?
Talvez por ser dúbia, severa, intensa. Por tocar no íntimo das frustações,
Ela lhe arrasta para o lugar de dúvida, da confusão, da inércia
É o quase que machuca, porque ele é sempre acompanhado

Quase
É o gosto do ter imaginário
É a dor da ausência por não ter
Talvez por isso doa tanto
Talvez por isso seja tão difícil não viver no quase

E como se liberta da armadilha de viver no quase?
E como se supera a dor do quase?
Porque o quase é uma prisão
Ela lhe coloca muito próximo do desejo realizado, lhe faz sentir, salivar
A ponto de achar que um único empurrão seria capaz de findar a sensação de quase

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Quase tive àquilo
Quase estive lá
Faltou só um empurrão
E agora sou refém da ilusão de voltar no tempo, que peso
É a consequência por ter se encantado pelo sentimento do quase?

Amei, quase recebi de volta
Doei, quase valeu a pena
Me dediquei, quase realizei
Confiei e quase acreditei
O quase é um pêndulo?

A sensação se repete:
Aquela porta ali em frente
Um pouquinho mais de força faria abrir mais rápido
Quase sinto o gosto do diferente, salivo
Quase...

Um pouquinho mais, droga, quase!
Agora que já sei, posso voltar no tempo
E então nunca mais haverá quase para viver
Armado de escamas duras que a vida me deu,
Sigo em frente e desafio o quase

Quase?!
Quase não o quero mais
Quase...


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