Me deixe entrar, me deixe ler
Dizem que quando a pupila se expande é porque há interesse espiritual, para além do físico e conhecido. E lá estávamos. Nós dois, frente a frente. Mais uma clássica história de encontros inimagináveis acontecendo. Tentava disfarçar o interesse olhando para os lados. A cada vez em que você agia da mesma forma, eu descansava a mão no pescoço, ao tentar suavizar a própria combustão da pele, que respondia a qualquer estímulo espontâneo entre nós. Um toque. Trocávamos, nos tocávamos. Era inútil. Tudo àquilo era inútil. Por quanto tempo mais nos enganaríamos daquela forma?
Eu queria mais. Quero mais. Fui além, li você. Não esperava encontrar um único verso seu ou qualquer palavra direcionada a mim. No entanto, gostaria de qualquer indício banal de que os nossos olhares trocados e o sutil movimento de acariciar as mãos não foram em vão. Lia suas palavras e devorava você. Nos despedimos porque a rotina nos obrigava a partir, mas queríamos ficar ali, juntos. Queríamos mais.
Madrugada. Meu desejo era de sair do meu quarto, caminhar e bater na sua porta. Não me importaria em ser recebido com a cara amassada de sono e com poucas roupas, nem que os cachorros acordassem todo mundo do seu prédio, por causa do barulho que faria para te acordar. Quem se importa com o que vão pensar? Minha única preocupação é de como posso continuar a sentir o que iniciamos.
Quero abrir a porta de sua casa, ser recebido com um abraço forte. Bagunçar seus cabelos. Sentir seu rosto quente próximo ao meu e o sorriso de satisfação porque estou ali. Quero seus olhos me devorando por inteiro e desejando cada pedaço. Quero entrar. Ir para o seu quarto. Passar o resto da noite sem camisa ao seu lado. Falar de coisas aleatórias, rir de bobagens e vulgaridades de um dia aleatório. Cozinhar qualquer coisa que engorde. Trocar beijos, saliva, me envolver com o seu corpo de forma intensa. Quero passar o resto da noite ao seu lado, assistindo qualquer programa da madrugada.
Na manhã seguinte, acreditar que nada foi um sonho, que não fora mais uma noite banal. Quero mais desse sentimento, ler mais você. Quero ser necessário como os seus óculos que compõem o rosto. Quero ser a lembrança, o riso espontâneo de quando a notificação chega na tela do seu celular a qualquer hora do dia. Quero ser qualquer coisa, menos uma página que pode ser descartada, caso alguma imperfeição nos próprios versos que experimento surja, à medida em que nos envolvemos.
Deixe eu ler você novamente. Quero sentir a intensidade do seu ser, das suas palavras, mergulhar no seu hálito quente, deixar que minhas mãos explorem as curvas do seu corpo outra vez. E quero respirar desse mesmo sentimento de satisfação todo os dias, todas as horas. Não canso, não paro. Iremos fracassar ao tentar nos limitar. Só quero devorar um pouco mais você e ser devorado por esses olhos grandes outra vez, mais uma vez. Me deixe ler e ser mais do que um encontro banal.
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