Despedidas

Capítulo 9
Janeiro de 2014

Duas semanas após terminarmos os trabalhos, Adam me pediu o seu anuário de volta. Eu sabia que esse era o sinal de que ele iria de fato tentar me deixar. A sua última tentativa de dar fim ao que sentia por mim. Não demorou muito e recebi sua carta com o conteúdo já conhecido por mim. Comparei as duas versões e notei que Adam foi ainda mais descritivo nas suas lembranças e ainda mais sincero sobre o que sentia.

Por mais que a carta estivesse há meses em minhas mãos, ele me surpreendeu e eu não soube o quê responder. “Amor só se torna problema quando ele é a melhor e a pior coisa ao mesmo tempo”. Eu disse a ele que não sabia o que dizer sobre a sua carta e me calei. Aparentemente compreensível, ele disse que tudo bem. Assim nos separamos.
Até então, nunca mais o vi e nem ele me procurou. Não conversamos mais sobre o dia a dia e nem de trabalho. O nosso ciclo se encerrou exatamente dois anos após termos nos conhecido. Por outro lado, minha relação com o Lucas, comigo desde o último inverno, cresceu e Adam... bom eu realmente não sei onde ele está ou com quem. Só desejo que fique bem, porque não há pessoa no mundo que demonstre tanto amor por alguém como Adam demonstrou por mim. Tenho até medo. Seria obsessão ou amor?

****
Amor só se torna um problema quando ele é a melhor e a pior coisa ao mesmo tempo.


Recuperei o meu anuário como planejado. Na verdade, Emma não esperava que eu fosse pedi-lo, consegui ver surpresa nela. Mas o fiz, porque prometi a mim mesmo que nunca mais iria procurá-la. Emma me fez passar por tantos percalços. Nunca amei alguém na vida como eu a amei e amo. É justo sofrer por só querer um pouco de amor? Mas sofri. Deixei Emma entregue à sua consciência, pelo menos é o que imagino. Entreguei-lhe uma carta que havia escrito desde novembro da última primavera, completei as linhas dizendo o quão gostava dela e do quão ela tinha sido uma das melhores e piores coisas que aconteceram na minha vida. Não sei o que ela entendeu de tudo àquilo que escrevi, reconheço que me abri demais. Se fosse hoje, talvez não tivesse lhe entregue.
Fato é que a sua única resposta foi “não sei o que responder”. Talvez ela não saiba mesmo, nem eu sei lidar com isso, imagine para ela, que nunca gostou de mim como nada. Deve ser difícil conviver com alguém que não se gosta nenhum pouco, por mera conveniência. Agora que acabaram os trabalhos, acabou a convivência. Sem outra possibilidade, me encorajei e juntei todos os meus cacos e me despedi de Emma. Fui embora com um livro nas mãos, cheio de expectativas para que o novo ano comece e que ele traga novas e boas experiências. Dei-lhe um abraço de até logo, que imagino que tenha sido o último.

Nunca mais encontrei com a Emma, até então. Não sei o que ela faz da vida. Tudo que sei é que a sua relação com o rapaz, que ela parece amar, cresceu. Que bom... Não se desgrudam e são só amores. Incomoda-me. De longe, só tento não manter contato com ela e nem saber a evolução desta relação. Machuca, mesmo não vendo, saber e sentir que nunca tive valor para ela. Durante dois anos esperei uma oportunidade, ou ao menos que ela visse beleza em mim, mas nada aconteceu. A mulher que mais amei na vida sequer suporta ficar ao meu lado, nem por força de trabalho. 

Eu devo ser uma pessoa muito ruim para Emma. Ela não imagina como isso me fere e de como repito todos os dias que a morte seria menos letal do que conviver com a esperança de ter alguém, que só te despreza e não consegue ver nada de bom em você. O que há de bom em mim não é bom para ela e cansei de esperar que ela consiga ver as coisas de forma diferente. 

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O ano virou e estamos no verão. Hoje é a terceira sexta-feira do ano. Ainda não conheci alguém, mas esse tempo afastado de Emma me ajudou a encontrar valor em mim mesmo. Fiz coisas que não fazia desde que a conheci. Aproveitei o tempo como nunca antes e comigo mesmo. Ela tinha razão: amor próprio... Estou mais seguro e mais certo de que agi da melhor maneira, ao me despedir e deixar Emma. Minha vida agora é dedicada ao trabalho e ao que me faz bem. Não procuro um amor e nem acho que irei encontrar. Aceitei o destino de que ficarei só. Melhor não amar ninguém do que amar quem não quer o nosso amor, certo?
 

Acompanhe a história:
Capítulo 7: O luto severo
Capítulo 8: Stalker
Capítulo 9: Despedidas
Capítulo 10: Casualidades
Capítulo 11: Cada segundo é inesperado
Especial: Uma carta para os desencontros
Capítulo 12: Segure firme


  

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