O bosque
Quando os meus olhos
fechavam e eu encarava o que estava diante da minha própria solidão, eu temia. Temia o tempo, porque tudo parecia mais largo
do que realmente era. Pedia ao tempo, para que ele passasse o mais rápido
possível. Contudo, ele era sórdido e demorava a se esvair em memórias. Ele
demorava em se tornar distante do meu horizonte, como um trem velho e nas últimas viagens, que resiste a
desaparecer dos trilhos.
Temia o bosque, as
datas, a escuridão da solidão. Temia tudo que envolvesse você. Mas hoje uma
música soou diferente, porque ela invoca algo que você não pode trazer. O eco
perpetua em mim, em minhas sensações. Sinto as ondas e o recomeço do que acreditava ser definitivo. Você me teve nas mãos o tempo inteiro e
tudo que fez foi se aproveitar do que doía em mim.
Temia o tempo
infinitamente; o bosque, constantemente. Mas agora o bosque é caminho por onde
eu devo passar. Sinto-me maior do que um dia imaginei. Dou voltas pelo espaço e
a sensação de correr nele, é como se eu estivesse abraçado à liberdade. Eu a
sinto em mim. Os seus pedaços que estavam presos em mim estão evaporando. Sinto
tudo que imaginava ser nós dois se desaparecendo, tudinho, até os pedaços que
julguei estruturantes. Dancei de braços abertos com a liberdade que exalava do bosque. Sobrevivi
mais uma vez.