O bosque


Quando os meus olhos fechavam e eu encarava o que estava diante da minha própria solidão, eu temia.  Temia o tempo, porque tudo parecia mais largo do que realmente era. Pedia ao tempo, para que ele passasse o mais rápido possível. Contudo, ele era sórdido e demorava a se esvair em memórias. Ele demorava em se tornar distante do meu horizonte, como um trem velho e nas últimas viagens, que resiste a desaparecer dos trilhos.

Temia o bosque, as datas, a escuridão da solidão. Temia tudo que envolvesse você. Mas hoje uma música soou diferente, porque ela invoca algo que você não pode trazer. O eco perpetua em mim, em minhas sensações. Sinto as ondas e o recomeço do que acreditava ser definitivo. Você me teve nas mãos o tempo inteiro e tudo que fez foi se aproveitar do que doía em mim.

Temia o tempo infinitamente; o bosque, constantemente. Mas agora o bosque é caminho por onde eu devo passar. Sinto-me maior do que um dia imaginei. Dou voltas pelo espaço e a sensação de correr nele, é como se eu estivesse abraçado à liberdade. Eu a sinto em mim. Os seus pedaços que estavam presos em mim estão evaporando. Sinto tudo que imaginava ser nós dois se desaparecendo, tudinho, até os pedaços que julguei estruturantes. Dancei de braços abertos com a liberdade que exalava do bosque. Sobrevivi mais uma vez.

Celebro a liberdade de um ciclo, o recomeço e aprendizado. Meu sorriso é largo e a minha boca parece rasgar-se, porque o riso estava preso durante o tempo em que vivi por um sonho. Eu já não me lembrava o que era sorrir. Outra vez estou no controle, o bosque é o meu mundo e passeio por nele. Estou livre para nunca mais ser prisioneiro do tempo e do medo. 





  

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