Laura
Os olhos dela encararam o céu durante a noite por horas. Sozinha, perdeu-se localizando estrelas. Há quanto tempo à escuridão noturna a impedia de vê-las? Laura agora fitava tudo com os seus olhos e sentia paz. Nos últimos meses, não diferenciava os dias das noites. Porém, pela noite, a solidão lhe machucava mais.
Laura era fissurada nos olhos dele, por isso, era incapaz de
ver tudo ao seu redor. Ela esticou os braços e, em um movimento espontâneo,
abraçou-se. A paz crescia em si espantosamente. Em um dado momento, foi capaz
de ver os olhos dele outra vez frente-a-frente. Assustada, perguntou-lhe:
– O quê há nos seus olhos, que foi capaz de me ferir tão
profundamente e por tanto tempo?
A surpresa de Laura é que ela sabia a resposta, mas a refutava
por temer a própria companhia. A jovem aprendera que deveria ter sempre alguém.
Ao longo dos anos, perdeu a capacidade de se enxergar sozinha e de ser feliz.
Contudo, agora a realidade lhe parecera dura e generosa, simultaneamente.