Quem tem medo de mim?
Uma voz feroz guia meus pensamentos e passos, mas ela assusta porque, embora feroz, ela é uma velha conhecida. Não te incomoda o conhecido te assustar? Porque a mim sim. Essa voz conhecida sou eu em um estado particular e líquido em que não controlo o que se forma por ela e dela? A forma sólida que prospecto não existe e escorrega pelos meus dedos. Essa voz, essa liquidez e esse sentimento de que tudo é rarefeito impacta na minha forma de experimentar o mundo e no que eu chamo de eu.
Mas quem sou eu? Você nunca se fez essa pergunta? Acho um desperdício de vida se você nunca a fez. Do quê você tem medo? De se tornar líquido como eu e não saber o que é? O que sou? Existe algo para eu me agarrar e chamar de meu? O que seria isso que chamamos de gente, de ser ou de pessoa. Seria uma forma singular preenchida de carne que tem uma espécie de relógio vital, que traz uma batida constante e quando os ponteiros param, significa que acabou? Tudo realmente acaba? Existe fim e fins para esse timbre dessa voz, essa voz um dia pode significar estranhamento?
O que sou? Um ser de carne que se completa pelo material, mas que necessariamente se conduz pelo imaterial? O quê é isso que há em mim? O quê é este sopro vital que transcende e guia toda a minha estadia nesse mundo tão superior em detalhes e tamanho a mim. Esse mundo é um mundo real ou mera construção do meu ser, para que eu não fique sozinho comigo mesmo, divagando em crises e pensamentos?
Se eu criei um mundo para mim, significa que eu criei algo que necessariamente é maior. Pior: algo imperfeito. Estaria eu querendo sombra ou não ser destaque, ou estaria eu querendo não ter de me lembrar de que existo? Há detalhes para observar, sobretudo as imperfeições, se existe um mundo maior do que eu. Estou salvo por alguns instantes. Parece uma boa saída criar um mundo para não ter que existir. A existência me parece tão trabalhosa. Tanto é, que há pessoas que não existem, apenas divagam. Somem e aparecem sem que ninguém as percebam. É um caminho possível, mas não sei se essas forças duais em mim me deixariam em paz para eu não existir e apenas divagar.
Se eu criei um mundo para mim, significa que eu criei algo que necessariamente é maior. Pior: algo imperfeito. Estaria eu querendo sombra ou não ser destaque, ou estaria eu querendo não ter de me lembrar de que existo? Há detalhes para observar, sobretudo as imperfeições, se existe um mundo maior do que eu. Estou salvo por alguns instantes. Parece uma boa saída criar um mundo para não ter que existir. A existência me parece tão trabalhosa. Tanto é, que há pessoas que não existem, apenas divagam. Somem e aparecem sem que ninguém as percebam. É um caminho possível, mas não sei se essas forças duais em mim me deixariam em paz para eu não existir e apenas divagar.
O que é essa dualidade inerente em mim? Ora parece vil, outra a bondade e ternura? E o quê são esses sentimentos que me devoram e me impulsionam para frente sem que eu perceba que estou indo para frente? O que é esse fluxo vital que me faz partir de um lugar para outro mesmo parado? São fenômenos. Fenômenos são experiências? O que são experiências? São elementos que preenchem ao que nomearam de tempo? Então se tenho muitos anos, tenho muitas experiências? E se a minha vida for vazia, ou, e se eu não tiver memória? E se eu optar não ter tempo?
Se as minhas experiências só passam por mim e não ficam comigo, eu as tenho? E se eu for à experiência que transborda entre os tempos e as vidas que levo? Se for assim, posso ser infinito. Mas o infinito me assusta, porque não tenho o controle de absolutamente nada. Aliás, eu não tenho controle do que sou, nem desse mundo que talvez eu tenha criado para mim para não me sentir tão só. Seria eu alguma coisa? Eu existo ou divago? E esse sopro vital que me aponta para os lados e diz coisas sobre mim? O que é a existência? Quem sou eu e quem tem medo de mim? ∞∞∞