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            O garoto na calçada do centro observa o funcionário do relógio público da cidade por alguns instantes. O funcionário, com um bigode ralo e uniforme claro, está sentado numa cadeira de plástico e tem apenas a companhia de um cachorro, provavelmente de rua, que fora presenteado com o resto de água no copo, deixado pelo homem no chão.
            Logo mais ele subiria a torre e ajustaria os ponteiros para a meia-noite. “Seria ele o controlador do tempo?” – perguntou-se o garoto. Outras dúvidas surgiam na consciência dele, quando observou as ruas em seu envolto e se perguntou: “o quê a meia noite de hoje tem de tão especial, que todos estão à sua espera e prontos para celebrar? Por que todos usam cores semelhantes e estão tão próximos?”.
Quem decidiu dividir a experiência da vida em anos, meses, semanas e dias deve ter percebido que viver a vida inteira num grande bloco, entre sóis e luas poderia ser uma tarefa amarga e difícil. A mágica da meia noite, a primeira do novo ano, traz o sentimento de renovação capaz de amortecer um período de desgastes, lutas e conquistas. As esperanças, crenças e sentimentos parecem retornar ao espírito, mesmo que este estivesse saturado horas antes.
De repente, tudo se torna passado, as frustrações, tristezas e angústias, todas elas são postas em suspensão. Ao menos nos primeiros dias dessa nova fatia de tempo, os sujeitos se dispõem a tentar de uma forma nova, se dispõe a encarar a própria vida de uma forma distinta e quiçá menos dolorosa. Dará certo? Dará errado? A resposta sempre imprevista não é um problema grande. O que verdadeiramente importa nesse novo tempo é a renovação. Arrisca-se e não se teme o novo por um tempo, talvez o suficiente para mudar as direções que a vida seguiria parada.
Que invenção engenhosa essa tal meia noite, capaz de transformar o novo em velho num único segundo. Seria possível imaginar uma vida que seguisse reto e sem espaços de renovação? O garoto do centro, que observa o funcionário do relógio, de repente, sente-se esperançoso outra vez. Alguma coisa irá mudar nessa nova fatia, nos próximos 365 dias? Ele opta instintivamente, em acreditar que sim e mesmo não conhecendo o funcionário da torre sente empatia por ele. Uma vez que, foi através dele, que o tom da meia noite se tornou conhecido e se renovou o espírito. Promessas e sonhos se aquecem num único tom. É uma nova chance para mudar algo outra vez?
Talvez por isso exista sempre alguém na torre pronto para mover os ponteiros na hora exata, no respiro final dos últimos segundos do ano e esperança esgotados. Talvez por isso exista sempre essa reserva de alegria e otimismo para o novo tempo. O tom da meia-noite chega e agora, já sem pressa, irradia o seu som e cores da primeira meia-noite do ano.


Um feliz 2015 para todos nós.


Um novo ano começou e o Ótica Cotidiana está pronto para explorar pelas Universalidades Singulares.






Sobre o slogan de 2015: Universalidades Singulares
Cada humano é um universo singular e cada coisa pode ser vista sob um prisma que é composto por possibilidades universais. Cada universo representa singulares formas de alcançar a universalidade, isto é, o aprendizado e conhecimento de si e do mundo. O blog retornará com as postagens no dia 09 ou 16 de janeiro. 





Comentários

  1. Ótima reflexão, não deixou de ser angustiante.
    Bom 2015 pra você tb

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Bem-vind@ a Ótica Cotidiana!
Obrigado pela visita e leitura do texto.


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