Versões extintas
Não precisou olhar fotografias antigas para sentir falta de uma versão extinta. Não precisou acessar as ideias rabiscadas noutro tempo, para saber que algo havia mudado e se perdido. As conclusões beiravam longe da nostalgia, porque avivavam sensações delicadas, numa dimensão temporal fora da escala convencional.
Como
fã de uma boa dose de ficção, não demorou muito para desejar voltar no tempo. A
vontade era a de dialogar com essas versões passadas e de tentar resgatar o perdido.
Um esforço inútil. Neste caso, o que se perde, embora possa ser substituído por
outra coisa, não se recupera.
Resiste
se conformar com algumas destas perdas, porque julga o conteúdo ausente como
estrutural. Algo se foi. O que resta é conviver com novas versões embasadas em tais
consequências. Nada é tão negativo como às vezes a vida pode dar a entender,
mas nem sempre há ânimo para recomeços e despedidas. Somos resistentes às
finalizações, porque o nosso tempo é particular e o tempo padrão (social) nos exige
agilidade.
As
voltas dadas pelo mundo só deixam claro que as duas noções de tempo são
opostas, ou tendem a ser. De um lado, a escala universal, do outro, a escala
pessoal e complexa. Por isso não é tão difícil sentir que há todo tempo do
mundo para pensar, mas nenhum parece ser suficiente para tal. Não somente pensar, mas
para experimentar, aprender e recomeçar.
O
resultado das constatações e das marcas do tempo pessoal pode trazer a
impressão – provocada pelo desgaste natural – de que a vida está se tornando
previsível ou atropelada. Abrem-se janelas para notar a ausência dos pedaços: os
pedaços estruturantes. Deseja-se no meio do caminho voltar a algum ponto da
órbita da própria vida, para ao menos reavaliar e agir ambientado no frescor original.
No
entanto, o tempo e as versões dos fatos arquivados em nossas mentes são sempre
dimensões particulares. Eles vão compor o que logo será extinto pelo que vem com o
tempo e experiência. Quiçá por isso fique fácil entender o possível motivo da
vida ter inveja do teatro. Diferente dele, na vida tudo sentido não se
dispersa com o fechar das cortinas. Ao contrário, permanece. Muitas vezes se
eterniza. Tal como é a sensação provocada pelas versões extintas.∞CINEMA
O filme nada tem a ver com o post, ou talvez tenha se olhado pelo viés psicológico. Deixo a interpretação e analogia com vocês.
#INdico para esse fim de semana, um dos meus preferidos:
Título (BR): Quem tem medo de Virginia Woolf?
Título: Who's Afraid of Virginia Woolf?
Direção: Mike Nichols
Ano: 1966
País de origem: Estados Unidos da América (EUA)