O pastel
Com a bolsa no colo, ela põe os
cotovelos e descansa a cabeça área no balcão sujo da lanchonete do
centro. Os sons são agudos e dispersos, parece perdida em meio a tanto barulho. Vidros e espelhos sujos de gordura compõem o ambiente. Pedidos estão sendo anunciados e entregues simultaneamente. As conversas
públicas que chegam aos seus ouvidos parecem desinteressantes, assim como a sua
próxima parada do dia.
Qualquer coisa ocupa os seus
olhos e mente por instantes, mas nada consegue concretude. De repente, observa um
homem de pé, próximo a porta, abocanhando um pastel. Saliva e alimento se misturam, enquanto ele conversa com um qualquer pelo celular, sobre o trabalho interminável e do
congestionamento ainda não enfrentado. Engole o pastel e levanta as sobrancelhas a
cada ênfase. A história parece real, mas ele ainda nem saiu do lugar.
Logo os seus olhos navegam até
a mesa dos estudantes. Tão novos e já tão reclamões. Notas, fofocas, músicas,
séries e internet animam a conversa, enquanto esperam o pastel para
compor a foto da reunião dos amigos. Num determinado momento juram entre si repetir o encontro. Embora a promessa não tenha intenção de se tornar uma quimera,
a vida tornará. Tudo continuou desinteressante para a observadora.
Do outro lado da rua, no
camelô, próximo a lanchonete, fitou num rapaz de bermudão comprando DVDs e CDs
falsificados. Com quem ele iria assistir? O que faz da vida? Perguntou-se. Ele
pagou com uma nota de cinco reais e esperou o troco. O comerciante gritou
alguém da barraca vizinha atrás de moedas. E o do bermudão pareceu paciente e feliz.