O fim e a distância
O fim e a distância são
injustos com quem os percebe e sente as consequências. Para além de qualquer
racionalidade, uma atmosfera de lembranças está estacionada, quando um dos
lados relembra um dia qualquer.
Na lembrança pareciam
felizes, por estarem no mesmo lugar e por trocarem o mesmo ar – o que estava em um, passou para o outro: união.
Mal conseguiam disfarçar o riso espontâneo. Os seus olhos cruzavam se reconhecendo
de longe, enquanto imperava o sentimento de euforia e infinidade.
O tempo passou, o poço de sentimentos evaporou. Hoje o que existe foge de qualquer criação passada. Agora, nada permite vínculos, lembranças ou esperanças. Passam frente a frente, no corpo a corpo diário, e nem sequer aceitam se reconhecer.
O tempo passou, o poço de sentimentos evaporou. Hoje o que existe foge de qualquer criação passada. Agora, nada permite vínculos, lembranças ou esperanças. Passam frente a frente, no corpo a corpo diário, e nem sequer aceitam se reconhecer.
A razão parece dominar friamente
àqueles olhos, que ainda insistem em cruzar com outros. Nada parece tão dizimável. Hoje os olhos estão visivelmente
cansados e opacos. E assim permanecerão, porque há sentimentos de defesa e
experiência: estão reconhecendo e experimentando o fim.
A mão que esteve próxima aos ombros, que acariciava
os cabelos e rosto, àquela mesma que se empolgava com os cumprimentos e
reconhecimentos de longe, hoje, recusa voltar a acenar. Na realidade, ela
parece áspera, assim como os pés, agora preenchidos por calos.
O tempo foi severo e os pés e mãos se apoiaram em
lugares difíceis de transitar. As marcas da distância são visivelmente
reconhecíveis. O trânsito entre experiências nem sempre é justo com as suas marcas particulares.
Na
atmosfera de lembranças estacionadas tudo é conhecido, mas pouco é aceitável.
Para os olhos que seguem as normas rígidas de tal racionalidade, só restam vultos
dos tempos de euforia. É como se o lado vivo desses vultos fizesse esforço
redobrado para continuar a existir, já que esses sentimentos representam partes
do próprio espírito.
Tudo parece difícil de manter,
quando só restaram as marcas das defesas e as consequências das experiências da
vida. O fim e a distância deixam marcas no corpo e espírito, de quem ousa os
perceber.
Foto: Reprodução/Google Imagens.
Footnote:
Nada mais difícil do que conter as próprias expectativas. Nada mais difícil do que conter o desejo, que pulsa por experimentação. ∞