O paraíso do hamster





De longe observo o hamster percorrer suas estradas imaginárias num grande globo, girando e girando. Talvez nem perceba que está sempre indo e voltando aos mesmos pontos espontaneamente.
De perto observo quantos de nós vivemos como um hamster, em mundos paralelos ou reais, girando e girando. Passeando ou trilhando caminhos. Dando passos, por longos espaços, em busca da mesma placa imaginária indicando a felicidade, um rumo ou mesmo uma ideia de paraíso.
O que viria a ser o paraíso? Algo carregado de significados pessoais? De certo, o paraíso tende a ser mais a materialização de vontades ou crenças pessoais, do que um pasto verde refletindo a paz de espírito num silêncio contínuo e tedioso.
O paraíso pode ser apenas o sonhar sem materializar. Por vezes, o sentido está justamente nesses processos de buscas, autoconhecimento, reflexão e das realizações esporádicas, alinhadas a algo maior -- que nem sempre nos damos conta do que seja. É um processo longo e complexo, nada é tão fácil. Talvez o paraíso não seja tão calmo como ilusoriamente cremos nos momentos de encarar o desconhecido e a infelicidade.
         Embora a ideia de paraíso tenda sempre a frustrar quando o globo gira, imagina-se que sem ela não seja possível existir em totalidade. O seu paraíso, felicidade ou rumo na vida será de acordo com o tamanho do seu espírito. Cabe talvez, nas condições reais da vida, requalificar o sonho ou caminho a seguir. Alinhando-se com os giros que estamos dando no globo. Porque tendemos, de um modo ou outro, evoluir. Tendemos a explorar o globo.
O hamster percorre o mesmo caminho que outros seres numa proporção mais (in)justa ao seu tamanho e tempo de vida. Às vezes ele para e deve se perguntar o que está fazendo ou o porquê continuar. Talvez ele entenda que esta parada não é definitiva e tampouco representará a sua desistência. Parar não significa renunciar.
De qualquer sorte e com reflexões espontâneas ou não, lá se vai o hamster mais uma vez correr pelo globo dos loucos atrás de alguma coisa que faça valer o seu esforço, ao menos para registrar sua passagem. Alguns devem somente gastar energias, como muitos humanos. Outros procuram sentido numa repetição tão previsível e tão singular a quem está girando e girando.
A verdade é que pouco importa a velocidade. O globo está girando e girando, tudo está girando e girando. Quanto mais você penetra no seu interior, quanto mais se descobre coisas, se questiona e o seus olhos veem uma estrada maior, o globo cresce absurdamente. Nada para por completo. Estamos sempre girando e girando (in)voluntariamente. É inerente, é vital. 

Comentários

  1. Parabéns pelo blog. Não tinha visitado ainda ( me julgue). Tá muito bacana, é interessante ver como algumas coisas mudaram na sua escrita desde o primeiro blog, e do anterior para este. Muito legal, primo.

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    Respostas
    1. Hahaha

      Fico feliz que tenha notado tantas mudanças.
      Obrigado pelo comentário e visita, primo!

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Bem-vind@ a Ótica Cotidiana!
Obrigado pela visita e leitura do texto.


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