Reflexos inversos
Devia não sentir saudades, foi apenas um
encontro. Bom, foram dois... no máximo três. Olha só para mim, nem sou capaz de
dizer agora quantos foram reais e quantos não foram coisas da minha cabeça. No
fundo não aceito que isso seja mais um motivo para não sentir saudades. Como às
vezes a gente gosta de sentir saudades de coisas, épocas e pessoas que não
tivemos contato. Parece loucura.
Devia não sentir medo. Melhor dizendo, não
deveria ter tido medo. Agora acho que entendo o que pode ter acontecido. Mas o
que se podia esperar? Foram apenas alguns encontros, com falas abstratas e
olhares próximos, mas ainda sim distantes. Mesmo que seja capaz de identificar
o seu cheiro e até a quentura seu hálito, não devo sentir saudades, não
deveria. Não é certo e nem justo.
Retirei um cisco do seu olho. Você me
agradeceu. Por que me prender a uma lembrança de quando os seus olhos grandes
devoravam os meus? E o seu sorriso espontâneo iluminava o meu rosto e me
causava frio na barriga e vontade de viver? Talvez por essa lembrança tocar no
meu espírito, só de pensar em rever ou reviver os seus detalhes. Conversávamos
e apresentávamos os nossos gostos, desejos e intimidades. Tudo beirava a
continuidade e certeza de crescimento dos sentimentos e relações. Não me parece
justo termos nos aproximado tanto e agora não ter certeza do que aconteceu.
Quem sabe não estivesse tão apavorado com que
estava sentindo, quem sabe tenha sido apenas reflexos de uma lembrança
meramente... pessoal. Não consigo ver você de novo, senão por meio da minha
própria esperança de que este número incerto de encontros cresça. Às vezes me pergunto
se você realmente existiu da maneira que estou vendo você. Não devia sentir
coisas, mas sinto. Não é arrependimento, mas um reconhecimento de que mesmo não
sabendo o que aconteceu, senti... significou. Só me resta tentar decodificar.
Quem sabe porque...
É embaraçoso, mas sentimos saudades de lados de
que nem as pessoas lembram que já tiveram. Tudo bem, me perdoo, foi um lapso.
Não devia sentir saudades, nem medo, nem arrependimento. Talvez essa incerteza
e conflito sejam mais um reflexo, quiçá algo que tive medo de sonhar e arriscar
me envolver. Depois de tantas horas pensando, deveria viver, não apenas sonhar.
Mesmo correndo o risco de nunca mais te encontrar.
Vin,
ResponderExcluirTudo bem? Fico feliz com a atualização. Os seus textos são tão íntimos que precisamos como uma droga que nos vicia. Já senti saudade do reflexo, do quase nada e no final superei a própria dor.
Boa semana e beijos.
Lu
Lu,
ResponderExcluirObrigado pelo carinho e comentário!
Superar a própria dor é uma necessidade para vivermos com o (s) outro(s).
Beijos e boa semana também!
Essas coisas do amor são sempre complicadas, mas no fundo, são parte daquilo que faz a gente chamar nossa existência de vida. E é tão difícil abandonar né... Mas às vezes é necessário, para que possamos seguir em frente e dar uma chance a novos dias, novas pessoas, e porque não, novos nós mesmos.
ResponderExcluirMuito bom texto. Tão impregnado de sentimento que tive que ler mais de uma vez para ser atingido por ele de todo.
Abraço!
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Oi, Vinícius. Eu tenho saudades de coisas vividas, claro, mas também tenho saudades de coisas que não vivi, que sonhei, que imaginei em divagações, por que não? Na verdade, tenho saudade e do momento que me fazia imaginar, divagar, era bom, provocava ansiedade, dava frio na barriga, eram momentos em q que eu sentia algo aqui dentro, por alguém. Sem essas coisa,me sinto vazia. Não quero nunca deixar de sentir essas emoções. Estou viva.
ResponderExcluirQue o retorno te traga muita inspiração para mais textos belos como este.
Um abraço.
Lucas,
ResponderExcluirSempre será complicado tudo que envolver sentimentos e o incerto. Vivemos na contante ação e reação tentando equilibrar os nossos sentidos e nos mantermos vivos.
Obrigado pela leitura e visita!
Ligélia,
ResponderExcluirEmoções são tão necessárias quanto o ar que respiramos, sem dúvidas não se pode viver sem elas. O que podemos fazer para nos mantermos saudáveis é equilibrar o que é bom e o que é ruim.
Obrigado pela leitura e comentário!