Qual seria o maior medo?
Em
uma manhã corriqueira, cheia de coisas para fazer, decidi resolver problemas no
banco. Sempre fui impaciente e odeio esperar. Porém, como o problema era
aparentemente simples, imaginei que não perderia muito tempo.
Lá
estava às 10 da manhã. Preocupado com o tempo que poderia perder, fui direto e
objetivo ao chegar à agência. Para minha decepção, o atendimento demorou e
muito. Mas o fato curioso a isso, e produtivo enquanto objeto para reflexão, é
que nunca antes havia entrado em uma agência, ou outro lugar que já estivesse
ido, tantos idosos com problemas de saúde e alguns até graves.
Vi
uma cena que me deixou impressionado e pensativo. Na verdade, há dias em quanto
voltava para casa comecei a imaginar as pessoas, adultas ou idosas, como elas
eram quando crianças. Em meio a essa minha loucura de desenhar os rostos das
pessoas mais jovens, imaginei o que realmente importa e o que realmente
queremos ao ficarmos mais velhos. Do que realmente temos medo?
Me
veio à cabeça o questionamento, de que se as pessoas teriam mais medo das
limitações físicas da velhice ou da solidão. Volto à cena do banco, quando duas
mulheres, que aparentavam ter uns 40
a 50 anos, auxiliavam um senhor de idade -- talvez marido
de algumas delas, ou talvez irmão, ou pai, quem sabe -- o que me chamou a
atenção fora à expressão nos rostos das senhoras e da debilidade do senhor.
Elas pareciam possuir toda a energia do mundo. A vivacidade delas ao
carregá-lo, aparentava ser mais forte do que a de uma jovem do meu lado.
Voltei
a minha louca mania de imaginar as pessoas mais novas e imaginei como seria àquele
senhor de idade. Paralelo a isso, fiquei a imaginar o uso da energia dele de
quando era mais jovem. Talvez muito vivo, corria e descia ladeiras imensas,
passava por casas e cumprimentava os vizinhos, e quem sabe cavalgava nos finais
de semana. Acho que na época dele ainda era uma hábito.
Quem
sabe isso tivesse me angustiado um pouco, ao ver pessoas jovens dizendo estarem
cansadas e não possuir energia. Ao encontrar em uma senhora tanta energia, foi um
fenômeno realmente admirável. Voltando a questão dos medos de se ficar mais
velho, veio à questão da solidão. Teríamos medo das limitações físicas ou da
solidão? Penso que da solidão. Imagine estar no lugar daquele senhor,
debilitado, como estava, sozinho ou com um desconhecido.
Os
efeitos físicos transformam 20 anos em 20 pseudos dias. Em 20 anos estudei,
entrei na faculdade, namorei, conheci pessoas, me diverti com amigos. E em 20
anos para um senhor de idade, com sérias limitações de saúde, pareceriam muito
mais no sentido de tempo, e muito menos no sentido de atividade. Nesse longo tempo
para ele, que vivia praticamente em casa, para aos outros pareceria 20 dias.
Isso parece angustiante para quem vive nesta situação. A sensação de ver a vida
passar e não vivê-la é algo realmente difícil de lidar. Visitas chegariam hoje
e daqui há 20 anos, voltariam repletas de novidades, e ao senhor, apenas no
mesmo estado debilitado, ou pior. Por isso os 20 pseudos dias. Pela distinção
do tempo usado por um e por outro.
Realmente
fiquei a pensar no que faço da minha energia e das minhas queixas. Percebi que
esta angústia de solidão acompanha todos os seres humanos, já que queremos
tudo, menos ficarmos sozinhos para sempre. Não por causa de ter alguém para
ajudar nas restrições físicas, mas na própria questão de relacionar-se e
interagir. Pensei, pensei e pensei. 20 anos ou 20 pseudos dias? O que causará
mais pânico se não o tempo consumido pela solidão? Qual seria o maior medo?
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