Endividado sem dívidas
No
banco da praça, com um classificador branco debaixo do braço, ele olhara o
movimento da cidade. Passou o dia inteiro caminhando de agência em agência
atrás de um novo empréstimo. Já não sabia mais para quem recorrer. Seu nome já
estava na lista dos devedores. Dentro do seu classificador só havia recibos e
mais recibos cobrando as tais dívidas.
Endividado
até o teto. Ele já havia perdido absolutamente todo o crédito na praça, seus
olhos diziam que o melhor a fazer seria desistir. A dívida era muito alta e
para efetuar o pagamento seria preciso um esforço muito grande. Abriu a sua
carteira e viu seus cartões e cheques, todos impossibilitados para uso.
A
sua esperança estava em saldo negativo, ele já não podia mais ir ao banco atrás
dela, seu saldo negativo o impedira. Ele já não podia pedir as pessoas. O seu
nome estava mal falado. Um homem devendo esperanças e sem esperanças, como ele
pode continuar a caminhar?
No
fundo o admiro, porque se ele continua a caminhar é sinal de que ele não é tão
pobre de esperanças como imagina ser. Acontece que às vezes a vida dá tantas
rasteiras, que não é tão raro o saldo ficar negativo. É altamente
compreensível.
A
praça começara a se movimentar. Ao lado dele, aparece alguém que oferece nada
além do que um abraço. No mesmo instante ele pergunta, com um olhar inesperado:
-
Por que me deu um abraço? Eu não conheço você e nem tenho mais credibilidade
para receber.
O
alguém te responde:
-
Eu sei de tudo isso e por isso resolvi ajudar. Quem sabe não chegou à hora de
você trabalhar para ter a paz que tanto procura? Acredite: não há ninguém com
mais esperanças do que você. Você está endividado, porque ainda não soube
demonstrar e usar mais a esperança que carrega. Ela existe aí dentro de você e
age o tempo inteiro, sem que você note. Caso contrário, o que explicaria você
estar aqui, debaixo desse sol atrás de mais esperanças? Você vive dela e nem
percebe. Você não tem dívidas, você só não esta sabendo como utilizar a riqueza
que tem. Tudo é temporal.
Pois
é, quantas vezes nos mantemos alheios à riqueza que nós temos? Somos
endividados, sem dívidas.
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