Desprezar, desprezar-se, até quando?
As
relações humanas parecem frágeis e fragmentadas. Nossa cultura tem favorecido à
superficialidade de quase tudo. Na velocidade para ter e experimentar tudo,
cultuamos o material, a imagem, o corpo e as aparências. Compreendidos como a
base para sustentar relacionamentos de uma vida inteira, assim como para
desprezar e desprezar-se, nas relações cotidianas. Mas que tipo de sustento
pode consolidar-se diante de algo que já nasce falido, por não dispor de
aprofundamento e autoconhecimento?
Convivemos com um conjunto de expectativas ilusórias e limitadoras de
aproximação, que mais afastam as possibilidades de relacionamentos do que
aproximam. Nesse caso, as primeiras impressões ao conhecer o outro, pulam da
espontaneidade, para a classificação de acordo com modelos. Por consequência, acabamos
queremos algo que as pessoas dificilmente estão dispostas a dar, porque às
vezes elas nem sequer foram devidamente apresentadas.
Parecemos
não entender que determinados modelos que alimentamos provocam reações e
calejam muitas de nossas percepções. Quando nos confrontamos com a realidade
das relações e do espírito humano, nos frustramos com os resultados porque
esperamos que a realidade seja tão quão ela é difundida. Diante de tamanha
opressão em lidar ou ser diferente, deixamos de lado a nossa espontaneidade e
partirmos para adequação aos modelos estabelecidos. Nos desprezamos em ser o que poderíamos ser.
Vai ver
que é por isso que as pessoas reclamam tanto que estão infelizes e solitárias.
Mas como essas mesmas pessoas querem construir relacionamentos, se não se abrem
a espontaneidade? Se procuram por modelos de satisfação coletiva e não pelas
suas afinidades?
A
cobrança em ser e ter o perfeito leva a situações fora do controle físico e
psicológico. Mas nada vem de um dia para o outro, é tudo uma construção. Tudo
começa na conversinha no corredor da escola, porque a Fulaninha está vestida
fora da moda. Ri-se da pobreza, da feiura,
dos excessos. Tudo só nos leva a distanciarmos dos outros e de nós mesmos.
Problemas crônicos como surtos e depressões se tornam comuns.
De onde
será que vieram tantas patologias do mundo moderno? Por que tanta gente se
achando diferente ou de outro mundo? Por que tanta gente querendo ser ouvida?
Não seria porque nos cobram muito e o tempo inteiro? Aceitamos passivamente
essas cobranças, simplesmente porque já as institucionalizamos em nossos
modelos de vida? Não seria porquê nos preocupamos tanto com o ter e as
aparências, que nos tornamos cegos do próprio sentimento de felicidade
espontânea?
Curioso é
que nos achamos o ápice da evolução dos animais. Aliás, nem nos reconhecemos
como um. Nos dizemos tão avançados, íntegros, inteligentes e civilizados, mas criamos
um conjunto de modelos repletos de contradições, que levam a doenças unicamente
nossas e difíceis de se curar. Só aumentam os nossos problemas e diminuem a
nossa felicidade.
Será que
a tal civilização na verdade é isto? Será esse o bolo completo? Por vezes a
atual civilização e humanidade dão a entender que civilizar-se e viver no mundo
avançado, significa ver o errado e aplaudir ou se manter alheio -- porque
estando na posição de opressor é mais saudável do que na de oprimido. Que
evolução! Quanto distanciamento e contradições. É uma fábrica de loucuras coletivas.
É uma fábrica de solidão baseada no desprezar e desprezar-se. Até quando
suportaremos as nossas relações falidas?
Comentários
Postar um comentário
Bem-vind@ a Ótica Cotidiana!
Obrigado pela visita e leitura do texto.
Participe deixando a sua opinião, comentário ou questionamento sobre o texto.
NOTAS :
- Não serão tolerados qualquer mensagem contendo conteúdo ofensivo ou de spam.
- Os comentários são de plena responsabilidade dos seus autores, ainda que moderados pela administração do site.
- Os comentários não representam a opinião do autor ou do site.