Escolhas & sacrifícios




Numa cidade pequena, de muitos pobres e poucos ricos, um grande comerciante resolveu festejar sua riqueza. Como era costume, para sinalizar compaixão, convidou pessoalmente uma moça entre os mais pobres.

Eliza, a escolhida pelo rapaz rico, ao receber o convite ficou tão feliz que mal pôde acreditar que realmente havia sido convidada. Contou para todas as pessoas de sua casa e também de sua ala. A alegria em seus olhos era algo inquestionável, irradiava a sua ingenuidade. Ela tinha no rosto um sorriso pueril de menina sonhadora.

Foi praticamente impossível retomar suas atividades diárias. Não retirou água da cisterna para pôr na bacia e lavar os pratos. Tampouco separou a comida dos porcos. Tudo que conseguia pensar era na festa.

Animadíssima, correu para uma de suas primas — de melhores condições, mas não tão distante dela — e lhe pediu um vestido emprestado. A prima, vendo a felicidade nos olhos de Eliza, emprestou-o sem qualquer dificuldade. Tudo conspirava a favor da moça, que hoje faria jus ao nome de rainha que herdara. Sua casa estava lotada; era domingo, e todos estavam bastante animados na confraternização religiosa.

O relógio marcou 18:30 e Eliza correu para o banheiro do lado de fora de casa, com o vestido emprestado, a maquiagem barata da irmã mais velha e os sapatos de sua prima/tia. Mal podia acreditar que o seu sonho se realizaria naquela noite. Cantarolava, dançava com o vestido e sorria como ninguém antes tinha visto. Os olhos negros fitavam, sem parar, as roupas emprestadas, e seu semblante era de quem estava em outro lugar.

Ao prender o vestido na parede do banheiro, foi em direção à porta para fechá-la. Para sua infelicidade, a porta estava solta. Todos estavam bastante ocupados com os festejos, e o som estava muito alto; ninguém poderia ajudá-la. Para que pudesse se arrumar, alguém precisaria segurar a porta, permitindo que ninguém entrasse enquanto estivesse no banho.

A moça ficou ali, segurando a porta, por muito e muito tempo. Olhava para o vestido, para a maquiagem, e logo a decepção e a frustração começavam a preencher seu rosto. Seu humor parecia um sorvete caído na calçada, derretendo aos poucos e evaporando. Gritou, gritou, e ninguém pôde escutá-la.

Pensou em encarar o banho com a porta aberta mesmo, era por um sonho! Porém, logo após tirar os sapatos, veio o medo de ser observada. O medo de alguém entrar por aquela porta e ver sua natureza íntima, tudo aquilo que não queria que ninguém jamais visse. Ficou ali observando o local, vendo as paredes sujas, contrastando com o que imaginava ver na festa. Em diversas tentativas frustradas, tentou segurar a porta e chegar ao balde ao mesmo tempo. Ficou ali, por muito e muito tempo, fazendo distintas manobras falhas. O cansaço era visível, e aqueles olhos que antes eram de uma menina sonhadora agora pareciam os de um adulto contrariado.

A confraternização de domingo em sua casa terminou, e ela ficou ali no banheiro, agarrada ao seu vestido emprestado, vencida pelo sono, pela fome e pelo cansaço. Seu grande sonho se tornou sua grande decepção.

Diante da cena que presenciei, só pude constatar: uma vez que temos um sonho, por menor que ele possa parecer para os outros, precisamos, em momentos propícios, nos expor e nos arriscar ao máximo para tentar realizá-lo. Muitas pessoas irão nos ajudar em diferentes épocas de nossas vidas. No entanto, em determinado momento, nós — sozinhos — teremos de enfrentar certos medos, para assim superar e alcançar o que desejamos. A criança que está dentro de cada um de nós pode ou não se tornar o adulto contrariado. Só vai depender das nossas escolhas e sacrifícios diante da nossa vontade de vencer. Eliza nunca será uma rainha, pelo menos enquanto ceder ao medo e pouco se arriscar pelos seus sonhos. Poderia ter feito diferente, mas optou pela espera e tudo que conseguiu foi a sensação de que poderia ter feito diferente.

Comentários

  1. Em: 18/05/2009 19:23:27


    cara... coitada da garota :/
    rs

    Vi sua história ficou mto boa meu...
    nem preciso dizer que vc escreve mto bem né... quando vc escrever um livro eu vou ser o 1º a comprar

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  2. Em: 30/05/2009 12:44:13


    Mano, desculpa num ler o post nem fazer um comentário sobre. To aki rapidamente pra dizrer que te espera uma 'brincadera' em forma de meme no meu blog pra ti. Espero que goste e lembre-se que é uma descontração, não uma obrigação. Abço

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  3. Em: 07/06/2009 19:11:19

    ahhh adorei seu blog muito showww,da vontade de ler todas as postagens,ta super organizado. parabéns..bj e uma ótima semana p ti. ^^)

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  4. Em: 13/06/2009 15:35:34

    Meu colega querido que escreve tão bem!
    Obrigada pelo comentário lá!
    Desculpa não ter passado antes,mas aqui estou eu,admirada com o seu blog(e dessa vez comentando!)
    Um beijo enorme!
    Ah,saiba que é uma honra estudar com uma pessoa tão talentosa como você!*-*

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